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Há alguns anos faço uma brincadeira no consultório, dizendo que estou me tornando médica do sono. Isto porque, acredito que mais de 90% das crianças que vêm em consulta pela primeira vez, independente da queixa principal ou doença, têm problema de sono.
A maioria dos pais já experimentou muitas e muitas técnicas que dificilmente funcionam , e chegam exaustos no consultório.
Algumas premissas são necessárias para se conhecer, antes de aderir às técnicas, que nada mais são que atitudes comportamentais que os pais acabam reproduzindo , mas que não atingem o objetivo porque as crianças, desde bebês , têm um conhecimento outro sobre as angustias e ansiedades de seus pais. E é justamente aí que a coisa pega.
Dormir bem resulta em benefícios para o cérebro que envolve o aprendizado, a memória, o bom humor, o equilíbrio emocional entre tantos outros . Se para os pais é penoso passar noites e noites acordando a cada 1hora, que dirá para uma criança, que a princípio , necessita de muito mais horas e qualidade de sono.
Um dos primeiros enganos que os pais acreditam diz respeito ao número de horas de sono. Ah, ele dorme da meia noite até o meio dia! São doze horas de sono! Ledo engano. ...Para o bom funcionamento cerebral e corporal, temos os hormônios, que são regidos pela glândula pineal, e por conseguinte, pela luz solar (dia-noite).
O principal hormônio que é liberado durante o sono é o GH, ou hormônio de crescimento. Mas, este hormônio só é liberado após 2 horas de sono profundo e acaba finalizando sua ação ao amanhecer. A criança que dormiu à meia noite, só vai ter atuação deste hormônio, a partir das 2 horas da manhã, mas logo ele cessará seu efeito. Por outro lado, a criança que é colocada às 20h, tem uma ótima noite de sono reparador, com atuação plena deste hormônio por muito mais horas.
Com o passar dos anos, a criança que dorme tarde, começa a desenvolver problemas escolares como concentração difícil, inquietude corporal, irritabilidade, cansaço, olheiras,etc,etc,etc...Um caminho propício ao uso da famosa Ritalina, e um caminho para o diagnóstico de TDHA e outros mais.
Precisamos nos lembrar que a criança não tem relógio e não tem como decidir se é ou não hora de dormir. Quando deixamos a criança chegar a manifestar sono para aí colocá-la para dormir, ela estará exausta e excitada ao mesmo tempo, e dificilmente adormecerá.
Na realidade, estamos passando por problemas sérios na educação das crianças. Os pais têm delegado a elas, decisões às quais elas não têm capacidade psíquica .
Isto gera um desespero enorme nelas. Ter que decidir se irão dormir, a que horas, se irão comer e o que, etc...
Pois bem, estamos inseridos em nossa cultura e esta é uma das nossas funções de pais. Inserir as crianças em nossa cultura, com as leis que a regem. O sono é uma delas. Como todo mundo dorme? Cada qual em sua cama, com a luz apagada e sozinho (a não ser que somos casados) . A partir daí , fica fácil saber o que é certo ou errado. Tudo que não está de acordo com esta lei, com certeza gerará sintomas .
Filho não deita com pai, não deita com mãe, não deita na cama de casal (porque é do casal ) , não deita assistindo televisão, não dorme com a luz acesa, não dorme na sala, etc...
Quando colocamos nossos filhos para dormir e fazemos uma oração ou uma palavra bonita e saímos do quarto, a criança passa a acreditar em si, a ter autonomia, e consequentemente, adormece rápida e tranquilamente.
Ficar no quarto esperando-a dormir , transmite que os pais consideram que ela não é capaz de dormir sozinha. Esta insegurança se transmitirá para a vida futura, para os seus relacionamentos.
A partir do momento que assumimos nossas funções de pai e mãe, conversamos com a criança, que ela é capaz de adormecer sozinha e que não deve acordar durante a noite, mesmo que nos primeiros dias haja resistência, rapidamente ela terá uma boa noite de sono. Afinal, o que os pais mais querem é a felicidade e saúde física e mental de seus filhos.
A criança sabe e sente se existe autoridade dos pais, se eles falam a mesma linguagem, se estão aflitos, ansiosos, angustiados. Isto se reflete também neste momento. Se meu pai e minha mãe estão consonantes, confiam no que é melhor para mim , com certeza não sobra brecha para a criança entrar. Isto gera uma criança e futuramente um adulto seguro e feliz.
Dra. Sofia H. Kílaris Gallani
Homeopata e Pediatra